ideia

O nosso projecto, entitulado 'O Círculo do Descanso', tem como base uma exploração da falsa promessa, jogando com o desencontro entre expectativa e realidade. A interacção da obra com o espectador realiza-se enquanto oferta de um presente envenenado, garantindo-lhe um conforto que nunca encontrará, pois nunca realmente exisitiu.
O conceito inicial surgiu como uma partida, cujo propósito não mais seria do que enganar à custa de uma simples gargalhada. Porém, depressa esta ideia progrediu para a crítica social, satirizando o contexto da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, que chega a negar aos seus estudantes os escassos recursos que possui. A origem deste progresso conceptual proveio do episódio relativo ao acorrentamento das cadeiras da esplanada, que ocorreu em Março de 2014. Confrontados com a falta de condições no jardim da faculdade, lugar privilegiado de convívio e lazer, os estudantes, optando por não se sentar na relva rala e muitas vezes húmida da rega, começaram a trazer emprestadas cadeiras da esplanada. O dono do bar não aceitou pacificamente esta stiuação, pelo que procedeu a acorrentar as cadeiras ao chão, evitando assim que as movessem de sítio. Esta reacção provou-se problemática, pois estamos perante uma solução pouco eficaz para um problema sério: a carência de condições no jardim não se resolverá impedindo que os estudantes usufruam do material de outro local, e impedindo que eles o façam é apenas provisório e inadequado. Rejeitar o acesso dos estudantes às cadeiras age apenas em benefício do seu dono, mas não zela pelos interesses dos estudantes.
O Círculo do Descanso trata-se, portanto, de uma reinterpretação deste episódio, oferecendo uma vã esperança de conforto a quem pretende descansar no jardim, que depressa se revela vazia e ludibriosa, pois mal o utilizador pousa a cabeça na almofada, ela produz um som estridente que o obriga a acordar e aperceber-se da dura realidade. Propomos assim uma crítica à faculdade e às suas insuficientes condições materiais, que mesmo quando existem não são para nossa utilização incondicional, e ameaçam ser-nos retiradas a qualquer momento, como se de crianças irresponsáveis nos tratássemos. O conforto que nos oferecem é efémero, depressa nos lembrando que a generosidade altruísta é uma ilusão, e, tratando a nossa necessidade de breve descanso como ociosidade, nos incitam a voltar ao trabalho.